O que acontece quando se empresta o cartão de crédito?

Quando o assunto é cartão de crédito, muita gente pensa só no limite disponível — e esquece que, por trás dele, existe uma responsabilidade financeira e até fiscal. Por isso, emprestar o cartão para outra pessoa, mesmo com boa intenção, pode trazer consequências bem maiores do que se imagina.

Neste artigo, você vai entender por que esse tipo de situação merece atenção redobrada. Vamos falar sobre os riscos envolvidos, o que a Receita Federal tem a ver com isso e o que fazer caso você já tenha emprestado o cartão e esteja em dúvida sobre como proceder. Continue a leitura para saber mais!

É ilegal emprestar cartão de crédito?

Não, emprestar o cartão de crédito para alguém – seja um familiar, amigo ou parceiro – não é ilegal nem configura crime no Brasil. Porém, isso não significa que a prática seja livre de riscos. Na verdade, ela pode trazer dores de cabeça tanto financeiras quanto fiscais, principalmente agora, com o aumento da fiscalização por parte da Receita Federal.

O problema não está no ato de emprestar em si, mas nas consequências que podem surgir dessa escolha. Imagine o seguinte: você tem uma renda de R$ 3 mil declarada no Imposto de Renda, mas começa a pagar mensalmente faturas de cartão que somam R$ 7 mil porque emprestou o cartão para outra pessoa. Aos olhos da Receita, isso pode parecer uma movimentação incompatível com a sua renda — e isso pode acender um sinal de alerta no sistema deles.

Ou seja, o que começa com uma boa intenção pode acabar em malha fina. Por isso, mesmo que a prática não seja proibida, o mais seguro é que cada pessoa use seu próprio cartão ou, se precisar dividir os gastos, que tudo esteja bem documentado e, preferencialmente, declarado.

Fiscalização da Receita Federal

Desde o início de 2025, a Receita Federal apertou o cerco sobre quem movimenta valores acima da média declarada no Imposto de Renda. Agora, não são só os bancos que precisam reportar dados dos clientes: maquininhas de cartão, carteiras digitais e outras instituições de pagamento também estão obrigadas a informar ao Fisco qualquer movimentação financeira mais alta.

Essas são as novas regras:

  • Para pessoas físicas (CPF): movimentações acima de R$ 5 mil por mês precisam ser informadas;
  • Para empresas (CNPJ): o limite é de R$ 15 mil por mês.

A Receita não vê exatamente o que foi comprado ou quem pagou, mas acompanha o valor total das transações por tipo (PIX, débito, crédito etc.). Se perceber que você movimenta mais do que ganha, ela pode te chamar para prestar esclarecimentos — e aí, é preciso ter como provar de onde veio o dinheiro e por que você pagou aquelas contas.

Alguns cuidados importantes:

  • Evite emprestar o cartão para quem não é dependente direto (como filhos menores de 24 anos que estudam);
  • Se for usar o cartão para pagar algo de outra pessoa, tenha comprovantes de que se trata de um empréstimo ou doação (inclusive, isso pode ser declarado no IR);
  • Em casos mais complexos, como dividir despesas da casa, um contrato particular pode ajudar a comprovar que os pagamentos são rateados.

Resumindo: o Fisco está de olho. E, embora emprestar o cartão não seja crime, a Receita pode desconfiar se sua movimentação não bater com o que você declarou. Por isso, o melhor caminho ainda é transparência, organização e muito cuidado com as finanças compartilhadas.

Quais são as consequências?

Emprestar o cartão de crédito pode até parecer um favor simples — principalmente quando se trata de alguém próximo. Mas essa prática, mesmo não sendo ilegal, traz uma série de riscos que merecem atenção. Eles não são garantidos, claro, mas acontecem com frequência suficiente para fazer a gente pensar duas (ou três) vezes antes de ceder o cartão a outra pessoa.

Abaixo, listamos os principais riscos de emprestar seu cartão de crédito — e por que você deve avaliá-los com muita calma antes de tomar essa decisão:

1. Endividamento

Esse é, de longe, o risco mais frequente. Afinal, quem te pede o cartão geralmente não tem um por um motivo claro: está com restrição no nome ou sem crédito no mercado. Ou seja, são grandes as chances de que essa pessoa não tenha condições de pagar o valor gasto. E aí, adivinha quem vira o responsável por essa dívida? Você.

Vale lembrar que os bancos fazem uma análise de crédito criteriosa antes de liberar um limite — se alguém não tem acesso ao crédito, provavelmente não é o melhor perfil para assumir uma dívida no seu nome.

Antes de emprestar, se pergunte:

  • Se ela não pagar, eu consigo cobrir esse valor?
  • E mais importante: eu quero ou posso assumir essa dívida?

Se a resposta for “não” ou “talvez”, repense a decisão.

2. Multas e juros

Além do valor original, existe outro problema grave: os juros do cartão de crédito estão entre os mais altos do mercado. Se a fatura não for paga na data certa, juros rotativos, multas e encargos começam a acumular rapidamente, e aquela compra de R$ 300 pode virar uma bola de neve difícil de conter.

Em alguns casos, os contratos bancários preveem o débito automático dos valores devidos diretamente da conta corrente. Ou seja, mesmo que você não tenha autorizado esse uso, o banco pode tirar dinheiro da sua conta para quitar a fatura.

3. Nome sujo

Se você não conseguir pagar a fatura do cartão, seu CPF pode acabar sendo negativado, e isso traz uma série de bloqueios e restrições:

Além disso, não há como contestar a compra feita por terceiros se foi autorizada por você — mesmo que tenha sido um empréstimo informal. No fim das contas, a responsabilidade legal continua sendo sua.

4. Comprometimento do limite

Emprestar o cartão significa, na prática, ceder parte do seu limite a outra pessoa. Isso pode não parecer um problema, até que você precise comprar algo para si e descubra que o limite não está mais disponível.

E mesmo que a pessoa pague direitinho, até a quitação da fatura seu limite estará comprometido, o que pode prejudicar o seu planejamento e gerar imprevistos financeiros desnecessários.

5. Fraudes

Se a pessoa usar seu cartão em sites duvidosos ou lojas não confiáveis, você corre o risco de ter seus dados clonados. Uma pesquisa da CNDL mostrou que mais de 3,6 milhões de brasileiros tiveram seus cartões de crédito clonados em um único ano (de março de 2018 ao mesmo mês de 2019) — e boa parte dessas ocorrências está relacionada a compras feitas em sites inseguros.

Dicas para evitar esse tipo de problema:

  • Nunca compartilhe seus dados com outras pessoas;
  • Oriente quem for fazer uma compra a verificar se o site é seguro;
  • Evite compras em e-commerces pouco conhecidos ou que não informam CNPJ.

6. Perda do cartão

Se o cartão for entregue fisicamente a alguém e acabar se perdendo, você terá um novo aborrecimento: precisará bloquear imediatamente, entrar em contato com o banco, solicitar segunda via e aguardar a entrega, que pode demorar dias.

Nesse intervalo, você fica sem acesso ao crédito, o que pode atrapalhar seus compromissos financeiros.

7. Problemas em relacionamentos

Talvez um dos efeitos colaterais mais comuns (e menos falados) de emprestar o cartão de crédito seja o impacto nos vínculos pessoais. Quando o pagamento não é feito — ou quando há uma cobrança inesperada — é comum que o relacionamento entre as partes se desgaste.

Além disso:

  • Problemas com dinheiro são uma das principais causas de separação de casais no Brasil;
  • Brigas por questões financeiras também afetam famílias, amizades e até relações de trabalho.

8. Dificuldade para controlar seus gastos

Quando alguém movimenta seu cartão, você perde o controle exato do que está sendo gasto. Mesmo que haja um combinado, pode acontecer de a pessoa parcelar, comprar mais do que o combinado ou mesmo esquecer de avisar alguma despesa.

Isso compromete sua organização financeira e pode gerar surpresas indesejadas na fatura.

9. Complicações com o Imposto de Renda

Como vimos no tópico anterior, movimentações financeiras acima da sua renda declarada podem levantar suspeitas na Receita Federal. E se os valores forem muito altos, você pode cair na malha fina e ser obrigado a explicar de onde veio aquele dinheiro.

A Receita não tem como saber que aquela despesa foi de outra pessoa — aos olhos do Fisco, tudo que está no seu CPF é sua responsabilidade.

E usar um cartão emprestado, é crime?

Não, usar um cartão de crédito emprestado, com a autorização do titular, não é considerado crime. Essa prática, embora não recomendada, não configura nenhuma ilegalidade por si só. Porém, isso não significa que seja isenta de riscos — especialmente se houver uso indevido ou problemas no pagamento.

O ponto-chave está no consentimento do titular. Se a pessoa dona do cartão autorizou o uso, a operação é legítima. Agora, se alguém usa os dados do cartão sem permissão ou tenta se passar pelo titular para realizar uma compra, aí a situação muda de figura: pode configurar fraude, estelionato ou falsidade ideológica, crimes previstos no Código Penal.

Mesmo quando há autorização, ainda existem riscos sérios. Por exemplo:

  • Se a pessoa não pagar a fatura e isso gerar dívidas, o nome sujo será o do titular;
  • O cartão pode ser usado de forma negligente, em sites ou lojas suspeitas, o que expõe os dados a fraudes;
  • Pode haver questionamentos fiscais, especialmente se os valores não forem compatíveis com a renda declarada de quem emprestou.

Além disso, o uso do cartão por terceiros pode levantar suspeitas se, por exemplo, houver uma contestação da compra. Nesse caso, o banco pode negar a devolução de valores alegando que houve uso autorizado, dificultando a solução do problema.

Ou seja, mesmo que não haja crime envolvido, usar um cartão emprestado pode:

  • Te colocar em situações desconfortáveis com o titular;
  • Envolver problemas legais indiretos, como disputas judiciais sobre o pagamento;
  • Gerar complicações com a Receita Federal, caso os gastos entrem no radar de fiscalização.

Por isso, mesmo sendo legal, o melhor a fazer é evitar essa prática sempre que possível. Se for realmente necessário, combine tudo com muita clareza e, se puder, registre a autorização por escrito. Afinal, quando o assunto é dinheiro e responsabilidade, o melhor é não deixar margem para confusão.

Já emprestei meu cartão, e agora?

Se você já emprestou seu cartão de crédito — talvez por conta de uma emergência, por confiar muito na pessoa ou simplesmente por não ver outra saída — agora é o momento de tomar alguns cuidados para evitar problemas maiores no futuro.

A primeira coisa a fazer é conversar com quem usou o cartão. E não estamos falando de uma conversa informal qualquer: é importante deixar claro quanto foi gasto, quando o valor da fatura vence e, principalmente, quem vai pagar e em que data o pagamento será feito. Evite deixar o assunto no ar, achando que “a pessoa sabe” ou “vai lembrar”. Trate como um acordo financeiro, porque é exatamente isso que está em jogo.

Se ainda não fez isso, formalize o combinado. O ideal seria um contrato simples por escrito, assinado pelas duas partes — você e quem usou o cartão. Mas se isso parecer demais, envie um email ou uma mensagem de WhatsApp que registre:

  • O valor emprestado;
  • A data de vencimento da fatura;
  • O compromisso de pagamento.

Esse registro pode não ter a mesma força jurídica de um contrato formal, mas já serve como prova em uma eventual disputa, inclusive para mostrar que a compra não foi feita por você, caso precise justificar a movimentação à Receita Federal ou ao banco.

Também vale reforçar com a pessoa que:

  • O cartão está no seu nome;
  • A dívida afeta diretamente o seu CPF;
  • Você não tem condições de arcar com a fatura caso ela não pague.

É comum que quem está pegando o cartão emprestado pense: “se der ruim, ele(a) dá um jeito”, mas esse tipo de pensamento pode te colocar em uma bola de neve de dívidas. Por isso, coloque seus limites com clareza e firmeza.

Se a compra ainda não foi feita, e você está apenas cogitando permitir o uso do cartão, avalie se há outras alternativas, como:

  • Pagar você mesmo a compra e combinar o ressarcimento;
  • Oferecer um valor específico como ajuda (em vez do cartão);
  • Negociar outras formas de apoio que não envolvam seu crédito pessoal.

No fim das contas, emprestar o cartão é algo que, se já foi feito, precisa ser acompanhado de responsabilidade, controle e comunicação muito clara. Quanto mais formalizado e bem acordado for, menores são as chances de você sair no prejuízo — financeiro ou emocional.

E se você já está enfrentando dificuldades, que tal conferir as nossas dicas para lidar com dívidas no cartão de crédito?

Summary

Roberta Firmino

Formada em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e com mais de 7 anos de experiência com conteúdo para web. Escrevo para ajudar brasileiros a saírem das dívidas e a tomarem decisões financeiras mais conscientes.

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