Se você acha que banco é sempre sinônimo de lucros gigantescos, provavelmente ainda não conhece o conceito de bancos comunitários.
Os bancos comunitários são associações criadas para gerar emprego e renda em comunidades mais pobres, incentivando a economia popular e solidária. É o povo como dono e gestor do próprio banco!
Apesar desse tipo de iniciativa existir faz tempo, muita gente ainda não conhece ou não entende direito como funciona. Por isso, preparamos um conteúdo completo (e descomplicado) sobre os bancos comunitários e seus serviços. Confira!
Você vai ver nesse conteúdo:
Toggle- Vamos lá: o que são Bancos Comunitários?
- O que caracteriza e diferencia um banco comunitário de um banco tradicional?
- Quais serviços são oferecidos por bancos comunitários?
- Como criar um banco comunitário?
- Os impactos de um banco comunitário na vida das pessoas
- Os desafios de um banco comunitário
- Além do Banco Palmas, quais bancos comunitários existem no Brasil?
Vamos lá: o que são Bancos Comunitários?
Os bancos comunitários são associações comunitárias que oferecem serviços financeiros solidários. Em resumo, isso significa que eles são instituições que não visam o lucro, mas contribuir para o fortalecimento das comunidades.
A própria população local é responsável pela abertura e administração do banco. O objetivo principal é reorganizar e incentivar a economia da região para trazer mais renda e trabalho para os moradores.
A instituição é administrada com base na economia solidária, ou seja, tudo é feito para trazer mais desenvolvimento social e econômico para a região. A produção aumenta (gera empregos), a população consome mais das empresas locais (gera renda) e a comunidade inteira cresce.
Como não visa o lucro, o banco comunitário realiza empréstimos sem juros para pequenos produtores da comunidade e organiza compras em conjunto para empreendedores, entre outras iniciativas para fortalecer o comércio local.
Esse tipo de banco é uma iniciativa muito relevante pois, muitas vezes, auxiliam cidadão que não contam ou tem dificuldades de solicitar os serviços dos bancos convencionais.
Talvez pareça estranho para você, mas atualmente cerca de 45 milhões de brasileiros são desbancarizados e não possuem contas bancárias.
O Banco Palmas, o primeiro banco comunitário do Brasil
É impossível falar do assunto deste artigo sem citar o Banco Palmas, que é o primeiro banco comunitário do país, e que serve como modelo para as novas associações até hoje. O Banco Palmas foi criado em 1988, no Conjunto Palmeira, bairro da periferia de Fortaleza.
A história do Banco Palmas é bem legal! Se você quiser conhecer mais detalhes, uma boa pedida é o documentário “Palmas”, que fala sobre a comunidade, suas dificuldades, lutas e sobre o processo de abertura do banco.
Você pode vê-lo pelo link abaixo:
O que caracteriza e diferencia um banco comunitário de um banco tradicional?
Agora veja quais são as principais características de um banco comunitário, segundo o Instituto Banco Palmas:
- o banco é criado pela população, que é sua proprietária;
- os moradores administram a instituição;
- além do real, o banco trabalha com uma moeda social que deve circular pela comunidade (vamos explicar como ela funciona em breve);
- atua em regiões de baixa renda, que não possuem acesso aos bancos tradicionais;
- auxilia especialmente beneficiários de programas sociais governamentais, como o Bolsa Família;
- visa o desenvolvimento social e não o lucro;
- cria linhas de crédito para estimular o comércio da comunidade;
- opera apenas na comunidade, não tem filiais.
Quais serviços são oferecidos por bancos comunitários?
Agora que já entendemos o que diferencia um banco comunitário de um banco tradicional, vai ficar ainda mais fácil compreender o que é um banco comunitário quando você conhecer os serviços que podem ser oferecidos por essas associações.
Ah! Mas antes, é importante lembrar que as regras do banco comunitário são dinâmicas e podem mudar para ficarem ainda mais alinhadas com os perfis das comunidades. Portanto, os serviços que vamos citar podem não estar disponíveis em todos os bancos solidários do país, ok?
Moeda social
“Moço, aceita pagamento em palma?” Se você ouvir essa frase em um dos comércios do Conjunto Palmares, no bairro do Banco Palmas, não estranhe. É que palma é o nome da moeda social que circula pela comunidade, além do real.
Cada palma é igual a um real e existe câmbio entre as moedas, ou seja, o comerciante pode trocar as palmas ganhas por reais ao final do dia.
Os bancos comunitários trabalham com moedas sociais, que precisam ser devidamente autorizadas pelo Banco Central, que podem ser movimentadas em papel ou cartão.
O principal objetivo de criar uma moeda própria é fazer com que a grana da comunidade circule apenas dentro dela, nos comércios locais que aceitam essa forma de pagamento.
Dessa forma, o dinheiro permanece na região e todos os moradores são beneficiados (direta ou indiretamente) com isso.
Crédito
O crédito é, sem dúvidas, um dos serviços mais procurados em qualquer banco comunitário.
Ao contrário do que acontece em bancos convencionais, as associações comunitárias possuem critérios bem mais leves para decidir se podem ou não emprestar dinheiro para alguém.
Geralmente, não importa se a pessoa tem o nome sujo ou score baixo. Existe a confiança de que o pagamento será feito corretamente, já que a pessoa é conhecida na comunidade e também proprietária do banco. Outra vantagem é que a maioria das linhas de crédito não possui juros e o prazo de pagamento é amigável.
Em um banco comunitário, os tipos de empréstimos são divididos em:
- Crédito produtivo — empréstimo concedido em reais para apoio ou abertura de empreendimentos locais (sejam eles do comércio, indústria ou serviços).
- Crédito de consumo — empréstimo feito em moeda social (geralmente em limites baixos e sem juros) para que os moradores possam consumir os produtos e serviços da região.
O número de linhas de crédito e as regras para contratar o serviço variam de acordo com as decisões da gestão do banco comunitário.
Projetos sociais
Faz parte das funções de um banco comunitário desenvolver projetos, como oficinas, cursos e palestras para contribuir com o desenvolvimento social da região.
Então é muito comum que os trabalhadores voluntários, empreendedores locais e toda a comunidade envolvida sejam convidados a participar de eventos, formações, cursos de capacitações e outras iniciativas do tipo.
Correspondente bancário
O banco comunitário pode atuar como correspondente bancário de um banco convencional, como a Caixa ou o Banco do Brasil.
Com isso, a comunidade pode utilizar o banco para realizar o pagamento de boletos, solicitar crédito ou abertura de contas e fazer transferências, entre outros serviços bancários tradicionais úteis para a população.
Essa também é uma alternativa boa para aumentar os recursos do banco comunitário, já que as instituições pagam comissões aos correspondentes. Porém, a complexidade do trabalho aumenta bastante.
Fundo solidário para compras em grupo
Os bancos comunitários podem criar fundos solidários para realizar compras em conjunto e com melhores preços para empreendedores do mesmo ramo de atividade.
Exemplo: um grupo de artesãos se reúne e faz uma lista de materiais necessários para a produção de suas peças. O banco pega essa lista e faz a compra diretamente com os fornecedores negociando os melhores preços, já que está comprando em maior quantidade.
Após o processo, os produtores pagam ao banco o valor das compras de forma parcelada e sem juros.
Como criar um banco comunitário?
Ainda não existe um documento ou marco regulatório com as regras que precisam ser seguidas pelas comunidades que desejem criar um banco comunitário.
O que precisa ser feito depende muito de quais serviços o banco pretende oferecer ou se vai atuar em parceria com um banco público ou não, entre outros detalhes.
Um passo essencial é reunir um grupo de pessoas interessadas em contribuir para a criação do banco comunitário e buscar apoio do poder público local, bem como de entidades privadas. Afinal de contas, é preciso muitas mãos e força de vontade para tirar um banco comunitário do papel.
Além disso, a abertura só pode ser feita em um local de vulnerabilidade social, em que a população não esteja sendo bem atendida pelos bancos convencionais. Não faz sentido, por exemplo, tentar abrir um banco comunitário no centro de Belo Horizonte (MG).
Também é interessante que essa equipe entre em contato e busque se filiar à Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Apesar de não ser um item obrigatório, fazer parte da organização pode tornar o processo mais fácil,já que a rede é reconhecida pelo governo federal e oferece apoio legal aos filiados.
Alguns pontos que precisam ser observados antes de implantar um banco comunitário são:
- as necessidades e possibilidades da região;
- quais serviços o banco vai disponibilizar no começo;
- quais pessoas da comunidade estão disponíveis para trabalhar no banco e como é possível prepará-las para as funções.
Vale dizer que o Instituto Palmas oferece treinamentos e assessoria para pessoas que desejam abrir um banco comunitário, seguindo os moldes do Banco Palmas. Outra forma de começar é buscar o apoio de um banco comunitário que já existe na região.
Os impactos de um banco comunitário na vida das pessoas
O banco comunitário é uma iniciativa que visa o desenvolvimento econômico e social de regiões que são marcadas pela desigualdade social. Portanto, o trabalho da associação consegue gerar um impacto gigante na vida dos moradores, trazendo benefícios como:
- aumento dos empregos e da renda;
- ampliação e criação de novos empreendimentos;
- oportunidades de educação, capacitação e lazer;
- mais tecnologia e inovação para a região;
- consumo mais sustentável;
- melhora na autoestima e no bem-estar social.
Os desafios de um banco comunitário
Como nem tudo são flores, implantar um banco comunitário também traz uma série de desafios, entre eles:
- conseguir mobilizar a comunidade;
- ganhar a confiança dos parceiros e moradores;
- preparar a equipe e os trabalhadores voluntários;
- conseguir recursos para dar início aos trabalhos;
- tomar as decisões de forma democrática;
- administrar a contabilidade e serviços bancários.
Além do Banco Palmas, quais bancos comunitários existem no Brasil?
O Banco Palmas é o primeiro e maior banco comunitário do Brasil, mas atualmente existem mais de 100 iniciativas filiadas à Rede Brasileira de Bancos Comunitários.
Conheça o nome de alguns desses Bancos Comunitários:
- Cidade de Deus — Cidade de Deus, Rio de Janeiro (RJ);
- Paulo Freire — Inácio Monteiro, São Paulo (SP);
- Terra — Terra Vermelha, Vilha Velha (ES);
- Platina — Platina, Distrito Federal;
- Conquista — Morro da Liberdade, Manaus (AM);
- Banclisa — Teófilo Rocha, Teófilo Otoni (MG).
Você pode visualizar a relação completa no site do Instituto Palmas.
Nos bancos comunitários, a comunidade é protagonista e o dinheiro é um instrumento de transformação social. Mesmo que você não queira ou não possa abrir um banco assim, é possível aproveitar a iniciativa como inspiração para quem quer praticar uma economia mais solidária!
Uma forma simples de começar a fazer isso é dar preferência para os comércios do bairro na hora de comprar produtos e serviços. Se o seu vizinho começou a vender bolos depois de perder o emprego na pandemia do coronavírus, que tal dar uma força para o negócio dele?
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